terça-feira, dezembro 15, 2009

#1234567890

Sombra no olhar não é maquiagem, são olhos verdes vestidos com jaquetas pretas. Eles passeam pela cidade e o que vêem não é belo, nem triste. A realidade tem tantas cores e mesmo assim continua sombria. Adolescentes raquíticos saem de cavernas abertas nas pontes e viadutos. Do outro lado da rua, mãe e filho pequeno atravessam a mesma ponte, na direção oposta.

Na cidade com nome de santo o escárnio e a inocência caminham pelas mesmas ruas. Vivem nos mesmo bairros separados pelas circunstancias e cabeças cheias. Estamos todos no mesmo buraco.

Jovem casal espera pelo taxi no estacionamento de um supermercado, enquanto um outro qualquer sai de seu carro novo e caminha na direção de um caixa eletrônico. A jovem esposa olha para o rapaz que sai do carro e seus pensamentos são altos como gritos . Ela ama seu marido, talvez, e a tarde é quente demais para andar a pé. Estamos todos debaixo do mesmo sol.

Mãe pobre olha pro céu carregado e pensa na chuva e seus estragos. Em uma igreja do outro lado da cidade alguém agradece a Deus pela chuva que garante a continuação da vida. Estamos todos debaixo do mesmo temporal.

Nessa cidade com nome de santo todos os anjos são cegos

domingo, agosto 23, 2009

poema de momento




tudo é passado

o futuro atrasado

e o presente guardado

para outros tempos

em um novo espaço

está na hora de mudar

a mobília de lugar

pra não encher bolsa de roupas

e partir

sóbrio é melhor

mas doido é mais intenso

hoje eu saí pra passear

com meu pequeno tormento

garoa fina

o frio

o vento

a dança pra deixar o dia

um pouco mais cinzento

é um projeto

ou é destino

hoje é apenas um tropeço

no mei0 do caminho

é a vírgula esquecida no texto

de um grande livro

escrito por Deus

mas editado por mim mesmo







sexta-feira, agosto 21, 2009

O Tigre


Sou um santo às avessas
divinamente marcado
para ser perseguido
pelo silêncio
pelo grito
dedos finos
alinhados ao braço do violão
amigo do frio
do vento
da solidão
cuide você de ser bom
pra que diante do Rei me veja dançar
não se engane com esse meu andar
trôpego
nem com esses olhos cansados
sou tigre marcado
de dentes afiados
forte o bastante pra te partir ao meio
cantando

sexta-feira, junho 12, 2009

Obrigado, são seus olhos




Meu Deus, mas que boa fase.
Alguém por favor me pare.
Eu não posso mais perder.
Há alguém mais inteligente?
Há alguém mais interessante?
Apareça e tente me vencer.

Eu sou o ser humano mais sincero do mundo.
Eu sou incapaz de partir seu coração.
Eu amo os animais, amo todos os humanos.
Eu sou incapaz de jogar lixo no chão.

Obrigado, são seus olhos.

Meu Deus eu sou um desastre.
Alguém por favor me mate.
Eu não quero mais viver.
Me sinto tão ignorante.
Todos me acham desisteressante.
Eu não quero mais viver.
Eu sou o ser humano mais cagado do mudo.
Eu chego atraso. Eu sou sempre o último.
Eu não aguendo ver meu rosto no espelho.
As garotas dizem que eu pareço um morcego.
Obrigado, são seus olhos.

quinta-feira, junho 11, 2009

Último Desejo

Talvez o auge do Inplastika foi o convite que recebemos pra participar do Especial de Aniversário dos 70 anos da morte do Noel Rosa. Nem sei como chegaram até nós confesso que antes disso unca tinha ouvido esse grande poeta brasileiro.
Por um lado isso foi bom porque sentimos liberdade de mexer completamente com a estrutura das músicas. O desafio: produzir versões de Último Desejo e do clássico Fita Amarela. A segunda não gravamos em estúdio, prometo tentarachar alguma performance ao vivo dela no youtube, mas o sambinha Último Desejo virou uma balada folk mais ou menos assim...

Palhaço


Sapatos largos, maquiagem
Pra onde ele vai?
Roupas coloridas e sorriso desenhado
O circo partiu e deixou o palhaço pra trás
Com o espírito quebrado dos animais enjaulados
Pra lhe assombrar
Não há tendas nem carros
E agora ele vai ter que aprender a se equilibrar
Com a vontade em uma das mãos e na outra o coração
Entre homens que cospem fogo e enganam o povo
Ele vai ter que andar
Porque o circo se foi e aqui desse lado as pessoas
Explodem sem usar canhões

Alucinação


*Uma das letras mais pesadas que já escrevi. Foi difícil até transcrevê-la. Todas as figuras remetem a um só sentimento. Melancolia.
É mais ou menos assim...
Sinto pensamentos e sonhos como um turbilhão
Como algo tão pequeno foi me derrubar no chão?
Escuto suas palavras, gritos. Chuva de verão
Rejeito esse sistema podre. Falsa Compreenção
Alguém me faça rir enquanto vejo meu mundo ruir
Pois o que eu vejo é um brilho lindo que me lembra
Que estou vivo mas, tão longe de você
Estou morrendo outra vez
Sinto meus braços tão pesados. Não sinto minhas mãos
Monstros correndo em meu quarto. Alucinação
Por um minuto sou menino em um mundo de ilusão
Sonhei que vi meus pais dormindo dentro de caixão
Alguém me faça rir enquanto vejo meu mundo ruir
Pois o que eu vejo é um brilho lindo que me lembra
Que estou vivo mas, tão longe de você
Estou morrendo outra vez

Me perdoe, me esqueça






* A distância pode sufocar o amor, mas não matá-lo. A saudade vira loucura e pode deixar um homem completamente desorientado. Ser guiado pela escassez e pelos instintos perturbados e pela solidão torna qualquer é algo capaz de revelar o pior de nós . É preciso ser um verdadeiro herói pra resistir ao tempo. Esse não foi meu caso.

Foi mais ou menos assim...

Você é a pessoa mais bonita que eu já vi
E olha que eu vejo muita gente andando por aí
O tempo todo
São tantos rostos que nem lembro mais de mim

Eu não gosto de falar tanto sobre mim,
Mas tanto tempo sozinho
Me deixou egoísta demais

Me salve com seus beijos
Me salve de mim mesmo
Me perdoe, me esqueça
Me conheça outra vez

quarta-feira, junho 10, 2009

Hospital


* Mais uma das antigas. Essas letras gigantes são bem da época que eu estava totalmente imerso na obra do Bob Dylan. Graças ao Alemão eu conheci a essência e isso mudou minha percepção musical e minha forma de compor, tocar, pensar e expressar meus pensamentos. Essa música nada mais é do que minha posição sobre o direito de morrer naturalmente. Aí vai mais uma opinião controversa, mas se fosse eu numa cama de hospital vivendo por aparelhos, minha vontade é uma só; puxe o plugue.
É mais ou menos assim...
Tenho muito tempo
Tem um tempo
Que eu tenho muito tempo
Quanto tempo eu tenho pra falar?
Sobre a indecisão de não ter decisão
Pra decidir se é sim ou não
Qual decisão eu vou tomar?

Conheci um homem numa cama de hospital
Ele me pediu ajuda pra fazer o seu final
E disse; "Eu já fiquei muito tempo aqui
Não é a droga de uma máquina que vai decidir
Por mim quando minha hora vai chegar
O que os meus filhos vão falar?
Como meus netos vão conhecer a minha hitória?
Então por favor tire esse computador da tomada
E me poupe do sofrimento de não ter controle sobre nada"

Tenho muito tempo
Tem um tempo
Que eu tenho muito tempo
Quanto tempo eu tenho pra falar?
Sobre a indecisão de não ter decisão
Pra decidir se é sim ou não
Qual decisão eu vou tomar?

E eu pensei; "Deus onde foi que eu me meti?
Você ta vendo o pedido que esse homem fez pra mim?
Avisa o anjo da morte que eu preciso dele aqui
Porque o safado foi tomar uma cerveja em Jacareí
E me deixou aqui pra decidir"
Meu Deus, que rolo
Eu disse; "Velho me perdoe eu não vou te ajudar
O que é que vou fazer quando seu coração parar?
Aquela coisa vai apitar e vai todo mundo vir aqui
E vão saber que Vito Escoza ajudou o velho a partir
E o velho respondeu; "Filho você faz perguntas demais
Diga apenas que ajudou o seu velho pai
Eles não podem te matar
Eles não pode te prender
Que falta faz um velho nesse mundo de vocês?"

Tenho muito tempo
Tem um tempo
Que eu tenho muito tempo
Quanto tempo eu tenho pra falar?
Sobre a indecisão de não ter decisão
Pra decidir se é sim ou não
Qual decisão eu vou tomar?

O dia não começou bem


*Essa é outra canção que eu não cheguei a terminar, porém, ela se encaixa perfeitamente bem no meu momento atual. Quanto ao pessimismo, ele ainda está por aí. Pobre de quem tem que conviver com ele, ou melhor, comigo.


Menina basta olhar pro céu
E ver que o dia não começou bem
O dia não começou bem
Mas você é o tipo de mulher
Que consegue ver um raio de sol
No mar revolto
Só quem tem os ponteiros
Acertados com Deus
Pode ver a vida assim
Eu não tenho o sol só pra mim
Mas eu tenho você
E isso já é um bom começo
Pra curar meu pessimismo

Antes dos 30



*Mais uma canção resgatada do meu baú. Vale a pena lembrar pela ousadia da letra - épica. Apesar de revelar um estilo de vida que não faz parte do meu presente. Neste caso, viva a licença poética. Sei que alguns versos são pesados, não exatamente cristãos, mas eles revelam uma porção da minha vida que não posso ignorar. Faz parte da miha história.

É mais ou menos assim...

As vezes tenho a sensação de que já vivemos tanto,
mas aí me lembro de que não chegamos nos 30
Será que vamos encontrar aos vinte e poucos
A encruzilhada de nossas vidas
Nossos corpos cresceram
Nossos passos são mais largos,
Mas não sentimos a mesma alegria
Dos tempos em que brincávamos descalços
Aprendemos novas palavras
E a desenvolver o raciocínio,
Mas não conseguimos pensar
Com clareza sobre o nosso destino
Nós temos muitos espelhos nas casas
E muitas vitrines nas ruas
Temos diferentes estilos
Para o mesmo sentimento de culpa
Precisamos encher os bolsos,
As garagens, as barrigas
Nossa satisfação é um dia
Sermos alguém na vida
Vamos olhar as plantas e os pássaros
E procurar neles algum sentido
Pra desistirmos de buscar a felicidade
E apenas continuar sorrindo
Vamos transar a noite inteira
E jurar que nos amamos
Você pode me usar,
Mas me deixe dizer
Quando e quanto
Se Deus nos convidasse pra dançar
Qual música Ele escolheria?
Se o diabo pudesse realizar seus sonhos
O que acha que ele faria?
Vamos rejeitar a capacidade
Que temos de não aceitar a vida
E seremos como as estrelas
Que brilham somente
No fundo do mar
Quantas vezes vamos perder a hora
Até descobrirmos que cinco minutos
Nunca é tempo pra nada?
Quantas vezes vamos nos precipitar
Até aprendermos a usar
Esses cinco minutos
Pra nos acalmar?
Precisamos transformar
Nossa música em poesia
Pra que a beleza das palavras
Não se perca na melodia
Vamos deixar que o nosso silêncio
Defina o som e a harmonia
Até que possamos transformar
Nossa poesia em uma sinfonia
Sobre a vida


186 passos



*Andei revisitando uma porção de canções e poesias que escrevi há muito tempo atrás, coisa de seis anos, e a maior parte ficou registrada apenas em um gravador de mão com o audio precário, mal dá pra ouvir a letra. Essa é uma dessas canções perdidas. Transcrevi o que consegui entender. Assim que bater uma inspiração eu posto o audio dela.
É mais ou menos assim...

Do balcão desse bar até meu quarto são exatamente 186 passos
E o meu estado é saber medir em quanto tempo eu estarei deitado

Só que o mais importante é onde eu deixei minhas chaves
Veja só como eu consigo simplificar a vida
Amanhã quando você ligar eu vou deixar tocar até cair em mim
Você não pode simplesmente entrar e sair da minha vida
Quando quiser

Porque toda vez você leva uma parte de mim
E deixa o seu perfume em meu carro
Eu bebo, eu fumo, eu cheiro o teu perfume
Me faz tão mal

Já me sinto tão bem e tão leve

quinta-feira, abril 30, 2009

Dálmatas


23:21 15\03\09

Dálmatas

Eu não devia tentar escrever sobre meu dia. Não agora. Minha cabeça é como uma máquina fotográfica cheia de imagens gravadas. Lembranças de um universo paralelo. Às vezes parece que não estou vivendo no lugar onde moro. De repente São José dos Campos não é aquela cidade industrial, fria de espírito, mecânica como as engrenagens das indústrias que trouxeram o progresso pra cá.

Em dias como hoje, eu olho no final de uma rua, com vista direto para o horizonte. Sinto o clima úmido e quente anunciando a chuva, enquanto os céus se fecham num cinza, como se estivesse farto da passividade que nos cerca e de repente, do final da rua, de onde enxergo o horizonte, vejo a chuva caminhando, primeiro a passos lentos, aumentando a velocidade gradativamente até envolver o carro e chorar sobre a terra e as copas das árvores paradas como se estivessem simplesmente tomando um banho.

Desejo amar mais do que partir¿ ou a questão não é amar, mas se deixar ser amado¿ Ultimamente dias como esse, cercado de carinho, fantasia e finais de tarde dourados apurariam o senso de vida, mas eles só me despertam mais interesse pelo outro lado

A vida é bem mais interessante quando fujo da matéria, excluo o que é palpável e tento descobrir espírito das coisas.

Hoje eu vi um dálmata marrom correndo perdido, levemente manco, sujo e assustado pela praça. A princípio parecia apenas à frente de seu dono, explorando os arbustos. Mas não havia dono e logo percebi seu olhar desorientado. Todos os sons chamavam sua atenção e ele andava de um lado pro outro como de procurasse uma pista. Quem quer que ele procurava. não estava lá.

Percebi que ele estava perdido, depois me ocorreu que estava abandonado. Apesar de mancando ele tinha o porte atlético. Sujo, porém bem alimentado. Chamei sua atenção várias vezes, mas ele me evitava. Comecei a persegui-lo mas ele fugia. Quando se afastava o suficiente de mim voltava à sua busca desesperada.

Comovido passei a persegui-lo com mais vontade. Parei o carro e comecei a correr atrás dele. Não tenho a menor idéia do que faria se o alcançasse. Não era de um simples cachorro perdido que eu corria atrás. Havia algo mais

Dei um pique por toda a praça, cruzei o grande corredor de pinheiros controlando o fôlego pra não me perder na marcha. Avancei mas ele não dava chance. Estava perdido demais pra confiar em mim. Impressionante que quanto mais perdido estamos, menos confiamos e com mais intensidade fugimos.

Foi o que ele fez. Não podia saber que eu queria salvá-lo. Odiei com ódio mortal o ser humano que o abandonou, se é que isso realmente aconteceu. O cão desceu para as ruas de baixo e eu voltei andando em direção ao carro, derrotado e com a sensação de que minha tentativa de resgate o havia deixado ainda mais perdido. Na praça, ao menos ele estaria mais seguro.

Nos duzentos metros que me separavam do meu domingo dourado, pensei em muita coisa. Até mesmo se aquilo tinha sido real. De quem eu realmente estava correndo atrás¿ Quem eu queria salvar¿ Não é a primeira vez que me empenho em salvar alguém e no final das contas fico com a culpa de ter atirado vinagre na ferida.

Talvez era atrás de mim que eu corria e de algo que jamais terei de volta.

De noite voltando pra casa dei voltas pela praça e ruas ao redor, na esperança de vê-lo cansado, deitado e exausto demais para rejeitar minha ajuda. Tudo que vi foram ruas vazias e escuridão.

É mais difícil encontrar na noite o que se perdeu durante o dia

Agora estou em casa na minha cama desarrumada há uma semana. Penso em ficar assim pra sempre, ou dormir pra sempre. Melhor ainda, seria simplesmente partir.

Pensei no mar e que da próxima vez não terei medo das ondas. Não mais me renderei ao meu instinto de sobrevivência. O que mais pode acontecer¿

Eu estava perdido, sujo e machucado, tentando encontrar alguém que já não estava mais por perto. Perseguindo cheiros e lembranças e fugindo para lugares mais desertos quando ouvia outra voz, senão aquela me chamar. Mas em um dia desses de noite, na escuridão eu estava exausto demais para fugir e decidi entrar pela porta que me foi aberta.

Onde estou há carinho, atenção, amor e pureza. Estou limpo e bem alimentado. Ainda manco, mas consigo andar e consigo correr quando preciso.

Todos os dias penso em sair e procurar por rastros deixados no caminho, mas decido ficar e aos poucos aprendo a confiar na voz que me chama. Nisto eu posso me orgulhar.

Agora posso dizer; Só quem já correu atrás de um animal perdido sabe como é difícil alcançá-lo.